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Walking Tour Poético Feminista em Barcelos: A história de uma cidade que também é feminista e poética

Foto do escritor: walkingtourwithvanessawalkingtourwithvanessa

Nessa semana, choveu por todo o país. O aviso amarelo de mau tempo inundou todas as plataformas sociais e, por momentos, ponderei adiar aquele walking tour. Contudo, manifestei por uma trégua de chuva e o melhor aconteceu no dia 8 de março: o walking tour poético feminista em Barcelos


grupo de mulheres num walking tour feminista a ler poesia


Dia Internacional da Mulher


8 de março é um dia de profunda reflexão, que cabe tanto a mulheres quanto a homens. Não é um dia de oferecer flores e dar palmadinhas nas costas, mas sim para refletirmos sobre o que já foi conquistado e o que ainda precisa de ser feito, relativamente aos direitos das mulheres.


Como eu sabia que, naquele fim de semana, estaria pelas terras do galo, no primeiro mês do ano tratei de planear o walking tour que tanto importava ser feito. O que me movia (e ainda move) é sempre o lema: levar a minha missão além-Lisboa.


E assim foi. Durante os dois primeiros meses do ano, pensei na temática e na história da mulher que queria trazer à luz. Faria todo o sentido conciliar com o tema da poesia, uma vez que, em março, também se celebra o Dia Mundial da Poesia.


O processo de construção do walking tour feminista foi muito simples e, à semelhança dos walking tours em Lisboa, coloquei toda a minha magia nele. No final, selecionei 26 poemas de Dulce Montalvo, a poetisa que a cidade quase se esqueceu.


Para trazer ainda mais a alma feminina ao roteiro feminista, convidei a Mónica, uma mulher com uma história incrível, para inspirar e refletir o papel da mulher na sociedade. Assim, no final do walking tour, todas as participantes foram brindadas com uma sessão de empoderamento e reflexão.


Walking tour poético feminista em Barcelos


Às 10h daquele sábado frio, com céu nublado e cheio de ameaças de chuva forte, estavam 11 mulheres animadas, curiosas e prontas para 3 horas de pura imersão na poesia portuguesa e na breve vida de Dulce.


Cada passo que demos não foi apenas um reencontro com uma cidade histórica, com espaços verdes que apelam à calma ou um momento de reflexão. Foi, acima de tudo, uma reivindicação do espaço público, limitado à mulher por séculos.


A poesia como ferramenta de emancipação


A poesia é uma arma poderosa. Quando usada com sabedoria, pode abalar sociedades. A relação da mulher com a poesia é multidimensional, profunda e carregada de séculos.


Não é de admirar que a primeira escritora da história tenha sido uma mulher e que tenha começado com a poesia. Não é admirar que as mulheres, ao entrarem no espaço público por meio do jornalismo, tenham procurado publicar os seus poemas. Não é de admirar que tantas mulheres, ao longo da história, tenham procurado desafiar normas, expor visões tão próprias e tão delas por meio de versos.


Não é de admirar que muitas poetisas tenham sido pioneiras nesta arte, utilizando-a para explorar temas como o erotismo, a sensualidade, a crítica social e a própria identidade feminina.


A relação da mulher com a poesia é, pois, inegável. Vai além da arte: é um ato de liberdade, de emancipação e de empoderamento.


Eu própria me revejo nas infinitas poetisas! Talvez porque, ocasionalmente, pego na caneta, no caderno de capa vermelha guardado a sete chaves, e deixo-me levar pelo que sinto, pelo que vejo e pelo que anseio.


Há liberdade no poema!


mulher a ler um poema num roteiro feminista em Barcelos

Reflexão sobre a memória coletiva


Transmiti a mensagem às 11 mulheres que escolheram fazer delas mesmas uma prioridade, celebrar a luta simbolicamente e, principalmente, conhecer a história de uma mulher que o tempo e história não a tratou como deveria.


A reflexão daqui parte na quantidade de “nunca reparei na placa” que sinaliza a casa onde Dulce Montalvo nasceu e viveu, na Rua Direita, em Barcelos. E o mais impressionante é que a maioria do grupo era composto por mulheres barcelenses, que nunca tinham notado a placa, ou por mulheres de fora, que conheciam a cidade, mas nunca tinham reparado nela.


E então, surge a necessidade de educar as mulheres das nossas terras, das nossas cidades. É então que urge levar o conhecimento, em primeiro lugar, às residentes porque elas são as primeiras que irão valorizar e, posteriormente, passar a informação.


As mulheres são a perpetuação da memória coletiva! E temos de começar por elas na transmissão dessa memória, desse património e dessa história.


Homenageando Dulce Montalvo


Em cada paragem da cidade de Barcelos, foram lidos alguns dos mais belos poemas de Dulce, Maria do Carmo de Lima Ferreira Bandeira. Honramos a sua única obra publicada, “Vibrações da Vida”, que nos revela o quão vibrante era a vida de menina-mulher que, tão jovem, procurava a vida eterna e compreensão para a sua alma inquieta.


Não fui apenas eu que li. A conexão e a atmosfera criadas por este único walking tour poético feminista foram tão profundas que as participantes também leram os poemas.


Escrito por uma mulher, lido por mulheres!



grupo de mulheres em Barcelos num walking tour poético feminista


Falei de Dulce. Mostrei os artigos que escrevera, outrora, nos jornais locais e refletimos naquela alma feminina que partiu tão cedo. Partindo dos poemas dela permitimo-nos imaginar e sentir quem era esta mulher-história.

Uma alma sensível, vibrante, inquieta, à procura do sonho que não sonhou e ansiando a vida eterna.


Mais do que um walking tour


O walking tour poético no feminino em Barcelos foi, antes de qualquer coisa, uma celebração. Um espaço seguro. Um momento de reflexão e de aprendizagem sobre a história e o património cultural feminino, um tema ainda tão intacto.


Sou profundamente feliz a fazer o que gosto. A pensar, criar, contar e levar comigo mulheres infinitas pelos caminhos, ruas e ruelas das cidades À procura das histórias femininas, silenciadas por séculos.


O turismo é também isto. Um motor para desafiar e procurar por novas narrativas. Um motor de conhecimento. Sou profundamente feliz em tornar o turismo cultural um espaço de reflexão, aprendizagem e valorização feminista através da criação de percurso pedestres que nos mostram narrativas ainda negligenciadas.


Nunca é apenas um walking tour feminista. É uma viagem intimista, reflexiva e poderosa sobre o universo histórico e patrimonial que a mulher deixou. E continua a deixar.


É um privilégio levar o meu trabalho a Barcelos, ao Minho, às mulheres barcelenses.


~


Se estas palavras ecoaram em ti, talvez este seja o momento de permitires-te viver esta experiência na capital portuguesa. A nossa caminha espera por ti. Vamos juntas?



Com carinho,

Vanessa

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