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Dia Nacional dos Centros Históricos: a memória feminina esquecida

Foto do escritor: walkingtourwithvanessawalkingtourwithvanessa

No Dia Nacional dos Centros Históricos, celebrado a 28 de março, vale a pena refletir sobre o papel destes lugares na nossa identidade e memória. Se há uma coisa que não pode faltar num roteiro de uma cidade é o seu centro histórico, não é?


Os centros históricos são, antes de tudo, lugares de memória, de identidade, de património e de cultura. Há neles todos pedra sobre pedra, histórias sobre histórias e pessoas sobre pessoas.


Contudo, deixa-me perguntar-te uma coisa: quantas vezes percorremos um centro histórico e não pensamos nas diversas narrativas, histórias e pessoas que ali não tiveram um papel de decisão?


Mulher a olhar para o centro histórico de Lisboa

Cidade e Centro Histórico


De modo muito simples, podemos definir centros históricos como a zona central mais antiga do conjunto urbano, cuja malha urbana é composta por edificações que remontam às diversas fases do processo de crescimento urbano.


Ou seja, uma cidade moderna, como a conhecemos atualmente, nasce de um centro histórico. E as cidades são o resultado de uma sociedade que, física e culturalmente, as construiu num sistema contínuo e intemporal.


A importância destes núcleos históricos é atestada em diversos documentos, como a Carta de Nairobi de 1976, e a verdade é que existe uma necessidade de manter estes lugares de memória ativos, revitalizados e valorizados.


Os valores culturais que os centros históricos transportam são inerentes à sociedade. São o testemunho vivo das épocas passadas cruzadas com o presente e seguem caminho para o futuro.


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Historicamente, as cidades foram organizadas, pensadas e criadas pelos homens, seres privilegiados do espaço público e político, enquanto as mulheres ficaram limitadas ao espaço privado, o doméstico.


Porém, importa dizer que, apesar da limitação de cada um a cada espaço, a separação nunca foi absoluta.


Quando caminhamos pelo centro histórico da nossa cidade ou de outra que visitamos, acredito que não se trata apenas de olhar para os edifícios, entrar nas lojas típicas ou visitar os monumentos emblemáticos. Vai muito, além disso.


Requer um olhar sensível e, ao mesmo tempo, aguçado. Requer abrir horizontes e procurar o que ainda não é muito visto e muito menos reparado.


É olhar para o mercado público da cidade e ver além, ver as vendedoras de frutas e legumes. É olhar para a icónica rua luxuosa do centro e imaginar ali as modistas e as mulheres a entrar e a sair apressadamente das lojas.


É olhar para uma igreja e reconhecer as mulheres que ali entravam ao encontro da sua fé.


E, apesar de a mulher ter sempre andado por lá, pelo núcleo histórico, a sua contribuição e participação raramente foi (e é) reconhecida.


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Vou levar-te para a componente prática. Imagina-te comigo num walking tour feminista em Lisboa. Estás a imaginar?


Neste imaginário passeio pelo centro histórico de Lisboa, chegamos à Praça da Figueira, um lugar intimamente ligado ao comércio local da cidade. E aí, conto-te uma história. Não só a importância da construção do mercado após o terramoto de 1755, mas, sobretudo, as histórias e memórias das infinitas mulheres vendedoras do mercado central da cidade.


Além disso, as mulheres, embora limitadas ao privado, tiveram um papel crucial na dimensão social e cultural. Seja na fundação de recolhimentos, de museus, de misericórdias, ou até na participação em revoluções políticas e sociais que influenciaram o próprio rumo do centro histórico, da cidade e do próprio país.


Captaste o olhar sensível? Percebes a magia?


Centro Histórico de Lisboa


Centro Histórico como lugar de memória feminina


As ruas, os edifícios e os lugares que compõem o centro histórico guardam memórias femininas que, por demasiado tempo, foram invisibilizadas. Quantas histórias de mulheres brilhantes ficaram na sombra?


Seja em Lisboa ou noutro centro histórico do país. Desde as Sés às pequenas ruelas dos bairros tradicionais, onde rainhas, varinas, vendedoras, escritoras, modistas, freiras ou pintoras, há uma memória que grita para ser resgatada.


Mas onde está a memória das mulheres? Ela não está gravada como deveria ser. Porque, cara leitora, o centro histórico é também um lugar feminino.


Essa é uma das razões pelas quais a revalorização da história e do património cultural feminino é tão importante. Porque, quando resgatamos essas histórias, essas memórias e esses patrimónios, estamos também a construir cidades mais inclusivas, mais presentes e um futuro onde o papel feminino é justamente reconhecido.


Dia Nacional dos Centros Históricos: preservação e futuro com perspetiva feminina


O Dia Nacional dos Centros Históricos, celebrado a 28 de março, recorda-nos a importância destes lugares enquanto elementos da cultura, património e identidade, encerrando um elevado valor histórico, artístico e patrimonial.


Mas é importante que o futuro seja construído com uma perspetiva inclusiva.


As cidades e os seus centros históricos são constantemente requalificados, restaurados e adaptados às novas necessidades urbanas. No entanto, deve-se considerar a presença e a contribuição feminina ao longo dos séculos.

Uma coisa eu digo-te: quanto a mim, nada pode apagar a memória das suas cidadãs.


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Se este artigo ressoou contigo, convido-te a explorar os centros históricos com uma perspetiva audaz, sensível e feminina. O Dia Nacional dos Centros Históricos, é ideal para refletir e dar visibilidade às mulheres que moldaram as cidades.


No walking tour feminista “Lisboa sob o olhar da mulher”, revelo as histórias das mulheres que moldaram Lisboa, mostrando como o património feminino está presente nas ruas, edifícios e tradições da cidade.


Embarca numa viagem que te inspira, empodera e leva-te ao conhecimento.


Com carinho,

Vanessa

Yorumlar


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